Na sua segunda visita em três meses à capital da República Centro-Africana (RCA), Bangui, François Hollande falou perante os militares franceses presentes no país no quadro da operação Sangaris, elogiando-os por terem "salvado milhares de vidas", ajudado a "restabelecer a autoridade do Estado e a relançar o diálogo" político..Proveniente da Nigéria, Hollande indicou como prioridade impedir "a menor tentação de uma divisão do país" das regiões do Leste, onde predominam as populações muçulmanas. A RCA entrou em colapso político e numa espiral de violência após o afastamento do poder do presidente François Bozizé, em março de 2013, pelas milícias muçulmanas conhecidas pelo nome de Séléka. O país viveu então um surto de violência que só conheceu acalmia com a intervenção francesa em dezembro..Após a queda de Bozizé, o poder ficou entregue ao líder das Séléka, Michel Djotodia, que, sob pressão dos países da região e da comunidade internacional, acabou por abandonar a RCA, estando a presidência hoje entregue a uma figura de transição, Catherine Samba Panza. Esta, assim como vários dirigentes religiosos das duas comunidades, foram recebidos pelo Presidente francês..O objetivo da visita de Hollande, como o próprio explicou, é o de "fazer o ponto da situação do conseguido nos últimos três meses e fixar as próximas missões". O Presidente francês considerou muito preocupante a persistência de situações de violência, apesar dos esforços da missão militar francesa, atualmente com mais de dois mil efetivos..Um oficial da força francesa disse a Hollande, enquanto mostrava algum do material bélico que tem sido capturado, ser comum a apreensão de "uma tonelada de armas e munições por dia"..O nível e perpetuação da violência preocupa particularmente o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, cujo responsável pela atuação deste organismo na RCA, Philippe Leclerc, disse hoje que o "clima de violência é tão intenso como o vivido" antes do massacre de Srebrenica, na Bósnia, quando cerca de oito mil homens e jovens muçulmanos foram mortos pelas forças sérvias naquela localidade em julho de 1995.."Está hoje em curso uma limpeza étnico-religiosa, que visa os muçulmanos. Muitas pessoas são apanhadas quando tentam fugir para salvar a vida - já vimos isso no passado", afirmou Leclerc. O responsável da ONU defendeu a necessidade de se "aumentar" a presença das "forças internacionais" e as "pressões políticas" para "travar os massacres"..Esta situação de violência recorrente está a pôr em causa o cenário inicialmente previsto de realização de eleições gerais até final do corrente ano.